X-From_: haikai-l-owner@unicamp.br Sat Mar 13 23:35:39 1999 Return-Path: X-Authentication-Warning: obelix.unicamp.br: petidomo set sender to haikai-l-owner@unicamp.br using -f Date: Sat, 13 Mar 1999 23:33:40 -0300 To: HAIKAI-L From: KakiNet Subject: [HAIKAI-L] Re: história da lista Reply-To: haikai-l@unicamp.br Sender: haikai-l-owner@unicamp.br Amigos da haikai-l: Enquanto lia o anuncio do Professor Paulo sobre a atualizacao de sua home page, olhei para o calendario e percebi que falhou a edicao da "Historia da Lista" de 28/02/99. Minhas desculpas a todos. Mas vamos la'. O fasciculo de hoje traz um artigo do Capitao Douglas, cheio de som e furia. Bom proveito. ---------------------------------------- >Date: Tue, 29 Apr 1997 09:05:26 -0300 >Sender: haikai-l@cesar.unicamp.br >From: "Douglas Eden Brotto" >Subject: En: um haikai... n'Os Olhos do Lago > >> Rodrigo e todos os demais a-listados >> >> Boa-Noite ! >> >> Escolhi o haicai do Rodrigo como"deixa"para te- >> cer comentários de quais seriam os elementos >> essenciais a este gênero poético.Primeiro o kigo, >> que resume sua essência, qual seja , a nossa >> condição transitória de passageiros da nave >> Terra, tão bem expressa no suceder-se das es- >> tações.O kigo, paradoxalmente , também reafir- >> ma o mito do eterno retorno . Imagino que um >> segundo elemento essencial deva ser a autentici- >> dade, uma vivência recriada poéticamente,através >> dos meios tons de um sugerir lacônico. Isto con- >> fere com a experiência vivida por Franchetti com >> as acácias e as de todos nós com as paineiras. >> Por vezes essa sugestão poderá vir sob a forma >> de uma aliteração, um trocadilho, uma rima ou >> um duplo sentido, mas a sua essência será >> sempre a autenticidade. O resto são ornamentos. >> >> O haicai do Rodrigo sugere, resulta de uma ex- >> periência real, própria;assim como é próprio o seu >> sentimento,apesar de comungado, com certeza, >> por muitos de nós . Seu único senão é mencio- >> nar a estação seguinte, o inverno, reforçando es- >> sa menção explícita com um kigo de inverno, os >> galhos secos . >> >> Mas o acima comentado vem a propósito da a- >> presentação de Miguel Sanches Neto do livro vir- >> tual "Os olhos do lago", do nosso Amigo não tão >> ausente Alonso Alvarez. Livro, diga-se de pas- >> sagem , que foi minha primeira e maravilho- >> sa surpresa ao largar amarras para esta frutuo- >> sa travessia nos mares da Internet, bisonho ma- >> rinheiro de primeira viagem que eu era. >> >> Miguel Sanches vê como elemento essencial na >> poesia do Alonso a transformação do real, a qual, >> no haicai, é meramente eventual; e , para muitos >> haijins, nem isso.É comum encontrarmos na con- >> ceituação do haicai seu paralelismo com um flash >> fotográfico, uma aparentemente simples reprodu- >> ção da natureza. Com a ressalva de que o kigo e >> a autenticidade da vivência poética são essenciais, >> e a transformação, o "adoecimento"da natureza >> nas retinas dilatadas do observador-haijin seja > apenas um elemento circunstancial, concorda- >> mos com êle, e com Manoel de Barros, quanto à >> oportunidade de"refazer-se" a natureza na criação >> da poesia. Concordamos também com Sanches >> que é uma realidade, no Ocidente, o Homem alie- >> nar-se da Natureza, para logo em seguida opor-se >> à ela: o ensaio de Kröeber -- "Natureza e Cultura" >> é antológico para os estudiosos de Antropologia. >> >> Não concordamos, porém, com a simples adição >> aritmética "humano+natura" proposta por Sanches. >> Tampouco com a sua pretendida "equação oriental" >> expressa nos mesmos termos, mas desprovida do >> sinal de igualdade -- equalis -- que identifica as ex- >> pressões matemáticas desse tipo,"equação"essa alei- >> jada em seu segundo membro, posterior ao "equa- >> lis",e sem o qual, e sem trocadilho, a equação per- >> de a sua natureza. Neste ponto, recordemos o >> texto do Franchetti sobre a diferença dos compor- >> tamentos de Tennyson e do poeta oriental ao en- >> contrarem a mesma FLOR : enquanto o primeiro a >> arranca, a interroga, a analisa e a joga fora, o poeta >> oriental, possivelmente um haijin, a admira em sua >> delicadeza, respeita-a fisicamente como um ser vi- >> vente com direito de continuar a sê-lo,louva-a como >> uma expressão da Divindade diferente daquela repre- >> sentada por ele, haijin, e a deixa tranquila ; e,a ele , >> tranquilo . O oriental respeita a natureza como um >> meio ambiente do qual ele faz parte, no qual está >> inserido , mas difere dele , Homem . Ele não a an- >> tropomorfiza, não lhe confere atributos humanos ; >> mas, sim,atributos divinos, comuns a ambos,ele o >> reconhece. E neste Tao , ou talvez neste traço do >> Budismo , reflete-se um dos princípios do haicai : >> --- não não se personalizar na poesia , não colocar-se >> como seu polo, nem em seu foco, em pessoa ou >> indiretamente, antropomorfizando a natureza, da >> qual ele é apenas um pequeno representante. Os >> que acompanham as discussões dos haijins de Ma- >> tsuyama, Ehime, província de Shiki e do haicai,já >> perceberam que, a par de um esquecimento do kigo >> e, por conseguinte, da natureza, nos seus haicais, >> eles seguidamente repudiam, em suas conversas, a >> antropoformização dos elementos naturais de qual- >> quer reino, ou da água, do fogo e das nuvens. Esse > proceder aparentemente contraditório é o reflexo neles, > haijins de origem anglo-saxã, em sua maioria, daquele > respeito à natureza tipicamente oriental . > >> Nem por isso, porém, os haicais do Amigo Alonso >> deixam de ser bonitos . Prova é que vários deles se >> classificaram nos melhores lugares, em nosso Con- >> curso, o primeiro da Haikai-l, democraticamente sufraga- > dos por todos os participantes. Mas nem por isso,mas > tambem precisamente por isso,não é verdade que >> o " característico dominante do grosso da produção(?) >> atual de haicai é um decalquismo vazio...e uma repre- >> sentação fiel e subserviente da natureza..." , nas pala- > vras do Sr. Sanches . FIEL sim,mas subserviente NÃO > !!!! @ # $ % & * ~ + _ ` { < > !!!!!! , Sr. Sanches !!!!!!!!!!! >> >> Talvez o Sr. Sanches ignore que o haicai tem suas >> raízes no primeiro milênio da Era Cristã, e que nesse >> curto espaço de tempo, desde então até hoje, o haicai >> passou por desenvolvimentos, teve quedas e recaídas, >> mas atingiu píncaros, por vezes, e nesse contexto >> desenvolveram-se escolas, tendências, estilos os mais >> variados, que atingiram a elegância estética de um Bu- >> sson, a dramaticidade de um Issa e a sobriedade de >> Basho . O princípio das linhas contrastantes -- estáti- >> ca e dinâmica -- já previa a faísca, a centelha,a estru- >> turação necessária ao saltar da surpresa, ao passe de >> mágica,quando talvez nosso Amigo Alonso ainda nem >> usasse calças curtas...E mais : esse princípio,apesar >> de sacramentado por Octavio Paz e adotado por Le- >> minski e Svanascinni,o maior divulgador do haicai na Ar- >> gentina, revelou-se um produto resultante do exagerado >> viés zen-budista que alguns estudiosos ocidentais equi- >> vocados tentaram conferir ao haicai, assemelhando-o >> ao "koan" do Zen ( cf. Franchetti , sem o "koan") . >> >> Terminando, lembro de Abel Pereira , em palestra há >> alguns anos num encontro nacional em que Alonso ob- >> teve o primeiro lugar,explicando a sorrir que um bom hai- >> cai em hipótese alguma é produzido : por vezes, se cria, >> com muito carinho, e outras vezes ele gera-se e nasce >> espontâneamente, passando pelo haijin -- pretenso e su- >> posto autor -- e ganhando vida própria. No dizer do carteiro > do filme de Pablo Neruda, os versos de um poema não são > de quem os fez, mas de quem precisa deles. Mas isto é > outra história, que envolve direitos autorais cobrados sobre > emoções e sentimentos íntimos--- que constituem o solo > fértil da poesia ---, proceder esse extranho a um poeta ,exceto > se for para garantir a sobrevivência. Mas proceder não tão > incoerente se são poetas que achem natural se constituirem em > "empresas" , personalidades jurídicas , para trabalharem com > a intimidade e a delicadeza da poesia . >> > Despeço-me repudiando com veêmencia -- perdoem-me este > linguajar burocrático e eivado de lugares comuns e de alguns não > tão comuns ---lembrando que o labor contínuo e sofrido ( mas bem > sofrido ) de dez anos do Grêmio Ipê e suas inúmeras antologias > e seus Encontros Nacionais anuais , suas publicações bissextas > do Caqui , o trabalho mais recente do Caleidoscópio com a criação > de rengas coletivos , a publicação de um catálogo de kigo, os livros de > Teruko Oda e de Cyro Armando Catta-Preta, sem falar dos arcanos, > como Luís Antonio Pimentel, as Edições Brinquedo de Jacy Pacheco, > a "produção" ( como diz o Sr. Sanches ) de Roberto Saito, Waldomiro > Siqueira, Abel Pereira, Lyad de Almeida , Yeda Pratis Bernis , Paulo > Cechetti , Ana Suzuki , Akemi Waki , Narita Sabiá , e outros mais > recentes nesse lavor poético orientados pelo Sensei-Haijin Masuda > Goga ------ lembrando que esse lavor , repito , não pode ser relegado ao > "decalquismo vazio " e outros apodos de um bom apresentador mas > ignoto crítico , como se revelou o Sr. Sanches. > > douglas eden > >> Niteroi >> >> > De: haikai-l@cesar.unicamp.br >> > Para: Kenzo >> > Assunto: um haikai... >> > Data: Quarta-feira, 16 de Abril de 1997 00:16 >> > >> > Galhos tao vazios... >> > inverno rigoroso >> > Lista no Outono... >> > >> > Rodrigo Vieira Ribeiro (fester@esquadro.com.br) > > > -------------------------------------------- Abracos. ---------------- Edson Kenji Iura http://www.kakinet.com mailto:kakinet@mandic.com.br ---------------------