O Haicai no Brasil
H. Masuda Goga


CONCLUSÃO









As colunas de haiku de jornais, revistas de haiku e outros periódicos da colônia japonesa apresentam-se muito concorridas. É preciso, porém, lembrar que a maioria dos poetas de haiku pertence a faixas etárias elevadas; e o idioma japonês ainda não é muito difundido entre brasileiros - fatores negativos na expansão do haiku.
A semente de haicai plantada há setenta e oito anos na terra brasileira brotou vigorosamente, cresceu sob os cuidados de intelectuais que são poetas e escritores, mas ainda não se constitui em poesia popular.

A longo prazo, o haiku entusiasticamente cultivado no presente entre elementos de origem japonesa, está fadado a fenecer, sendo minha impressão de que o haicai, sim, terá um futuro melhor. No momento, o número de haicaístas é ainda bem reduzido, mas distribui-se desde a Amazônia até os estados sulinos, abrangendo todo o território brasileiro. Existe uma tendência de crescimento de publicações relacionadas com o haicai. Não se pode ignorar ainda a informação de que são numerosos os estudantes que consultam livros sobre haiku na biblioteca do Centro de Estudos Japoneses, anexo à Universidade de São Paulo.

É possível que, tal como acontece na Europa e nos Estados Unidos, se o haiku for divulgado em textos escolares e se promoverem concursos de haicai, se verifique um inesperado boom.



Existem exemplos de haicais atribuídos a personagens dos romances de Érico Veríssimo (1905-75) e Jorge Amado (ambos célebres escritores). Em pesquisa promovida em 1980, com 100 estudantes de diversos departamentos da Universidade de São Paulo, noventa e seis declararam desconhecer o termo haicai ( V. prefácio de Quatrocentos e Vinte Haicais de Waldomiro Siqueira Júnior). Mas os poemas humorísticos (poesias de três linhas à maneira de haicai) de Millôr Fernandes (humorista, caricaturista), divulgados em uma revista semanal, são muito populares.


São muito poucos os haicaístas descendentes de nipônicos, mas temos esperança no futuro. Apresentamos abaixo um haicai de Roberto Saito (poeta, professor colegial), residente em São Paulo:


Abro o portão
na úmida madrugada.
Perfume de camélias.

Tsubaki no ka
tsuyukeki asa no
mon hiraku

(Tradução livre de Masuda)

Este haicai tem 4-7-6 sílabas.

Por outro lado, ao mesmo tempo em que se realizam sérios esforços para o "abrasileiramento" do haiku peculiar do Japão (gosto e interesse pelo haicai), será necessário, paralelamente, intensificar sua introdução e difusão. Para se conseguir "desenvolvimento de alto nível" do haicai do Brasil, o fator mais importante será o surgimento de um grande haicaísta, capaz de servir de locomotiva do movimento haicaísta.

Lembramos que constituiu perda irreparável o falecimento repentino, ocorrido há pouco tempo, de Jorge Fonseca Júnior, que acabava de escrever sua obra Tankas e Haicais, que não chegou a publicar.












Jorge Fonseca Júnior faleceu em 1985.






1 de maio de 1997

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