O Haicai no Brasil
H. Masuda Goga


TRÊS CORRENTES DE
OPINIÃO SOBRE HAIKU

Vejamos agora como poetas, haicaístas ou estudiosos e praticantes brasileiros do haiku recebem e interpretam essa forma poética:

A. OS DEFENSORES DO CONTEÚDO DO HAIKU

É a opinião daqueles que consideram características peculiares do haiku a concisão, a condensação, a intuição e a emoção - concepções essas geradas pela inspiração no zen-budismo. Opinião abraçada por Oldegar Vieira. Quanto à associação do zen com o haiku, Oldegar explica com a expressão "súbita iluminação". A idéia de associar o haiku ao zen constitui tendência quase comum a todos os haicaístas brasileiros.

B. OS QUE ATRIBUEM IMPORTÂNCIA À FORMA

É a tese defendida por Guilherme de Almeida, fortemente fascinado pela forma extremamente curta do haiku. No ensaio intitulado Os meus haikais, publicado no jornal Estado de S. Paulo de 28 de fevereiro de 1937, diz que, após vinte anos de poesia, chegara à conclusão de que não há idéia poética que, despida de roupagens atrapalhantes, não possa ser reduzida a simples haicai.

E destaca os seguintes três pontos de semelhança entre a trova brasileira e o haiku:

1) Ambos atribuem importância ao número de sílabas e não à acentuação;

2) A base de pronúncia em ambos é comum: a, e, i, o, u;

3) O ritmo ímpar do idioma japonês é semelhante ao nosso. O heptassílabo, bem como a nossa poesia, nasceu na Gália, constituindo a forma clássica do romance, canção popular e outros. Na própria conversação cotidiana, existem muitas frases de sete sílabas. O verso pentassílabo igualmente integra a nossa tradição. Ex.:

Leva-me esta carta

ao meu namorado.

Guilherme de Almeida acrescenta: "por último procuro a rima. Eis o meu haikai. Dentro da regra de 5-7-5 sílabas, o primeiro verso rima com o terceiro. Na segunda linha rimam a segunda slaba e a última".

O poeta explica com o seguinte gráfico a sua forma de haicai:

- - - - X
- O - - - - O
- - - - X








Por que haicaístas brasileiros sustentam a opinião de que o zen tem relação com o haiku? É porque, quando o haiku foi introduzido na Europa e nos Estados Unidos, ficou-se sabendo das relações de amizade entre Bashô e o monge budista Bucchô. Ao mesmo tempo, lembremo-nos da influência de Zen e Cultura Japonesa (Zen to Nihon Bunka), de Taisetsu Suzuki (edição em inglês, 1940). Nesse livro, há um capítulo intitulado "Zen e Haiku - A Intuição Zen na Base da Inspiração do Haiku". E aponte-se ainda para a observação: "Ao se atingir a iluminação, brota a criatividade, repira-se o myô (sabedoria) e o yûgen (beleza oculta), e se realiza o Eu nas diversas modalidades de arte (...) Nesse aspecto pode se dizer que se aproxima do haiku" (Extraído de Zen e Cultura Japonesa, tradução para o japonês de Momoo Kitagawa).



Segundo Henderson, "o haiku é um poema de três linhas, com rima e título" (Hototogisu, julho de 1936, p. 63). De acordo com esta versão, não poderá ser atribuída provavelmente a Guilherme de Almeida a invenção de rima e título no haicai.
Esta forma, que fez época, criada por Guilherme de Almeida, foi seguida por Waldomiro Siqueira Júnior e outros.

C. O ADMIRADOR
DA IMPORTÂNCIA DO
KIGO - PALAVRA OU
TERMO RELATIVO À
ESTAÇÃO DO ANO

Sob a influência de Kyoshi Takahama, Jorge Fonseca Júnior defende a importância de termos ligados às estações do ano.

"Assim (...) quanto ao haiku (...) deve indicar ou refletir a estação do ano (ao menos indiretamente) em que é elaborado; e caracterizado, portanto, por sua extrema concisão, devendo, ao mesmo tempo, através desta, fluir com naturalidade o conteúdo poético" (Jorge Fonseca Júnior, Wenceslau de Morais e Outras Evocações, 1980, pp. 120-121 ).

Acrescenta ser "desnecessário colocar título em cada poema de haicai, nem observar rima".

Waldomiro Siqueira Júnior adota atitude liberal, afirmando: "manifesto respeito à tradição do Japão, mas faço meus versos, interpretando à minha maneira, como um ocidental".







1 de maio de 1997

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