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AS IDÉIAS DE
Jorge Fonseca Jr.
 APRESENTAÇÃO
 IDÉIAS
 HAICAIS
 ÁLBUM
 BIOGRAFIA
Leia também:

Jorge Fonseca Jr.
por Paulo Franchetti

A índole original do haikai anda em união íntima com a natureza que lhe cerca a produção; assim, penso que o que nele existe de verdadeira, legitimamente variável, serão seus motivos ornamentais, os aspectos da natureza circunstante por ele refletidos ou interpretados.

Roteiro Lírico, 1939


Em suma, em todos os haikais constitutivos desta primeira parte do livro, sempre e intencional, se manifesta, ora mais, ora menos acentuado ou completo, um motivo ornamental brasílico, tirado da nossa fauna, da nossa flora, da nossa natureza enfim.

Roteiro Lírico, 1939


São freqüentemente empregadas nos haikais dos mestres japoneses, interjeições de que, como outros recursos, é rico o idioma do grande povo levantino. Isto exemplifica praticamente, que, como desavisados poderiam supor, não se vai à supressão dos sentimentos, absurda em Poesia. Apenas sutilizam-se todas as expressões.

Do haikai e em seu louvor, 1940


Porque, claramente, se conclui que os principais elementos do haikai são visivelmente universais, possíveis em qualquer povo ou raça. Quanto aos que nos pudessem parecer genuinamente nipônicos é, então, pelo menos, evidente, supri-los-ia o poder da inspiração dos poetas autênticos, de qualquer outro país.

Do haikai e em seu louvor, 1940


Teria eu meus quinze para dezesseis anos quando, adquirindo o livro "Trovas Brasileiras", do nosso notável Afrânio Peixoto, tive, pela primeira vez, contato com esta modalidade de poesia, em virtude da alusão, que, no prefácio, que ao livro dá, lhe faz o eminente escritor.

Do haikai e em seu louvor, 1940


Se a Poesia é uma deusa e a Forma é para seu corpo como a veste para o das mortais, então, o haikai é como um simples véu sobre a divina nudez.

E se a Arte é, como pregava Eça incomparável, "o véu diáfano da fantasia sobre a nudez forte da verdade", teremos que o haikai é a forma por excelência, elevada ao máximo, -- sendo o mínimo...

Aliás, este andar vai bem, satisfazendo poeticamente (e direi, quase, -- é tudo!), àquele: -- "mais nua, sob um véu" de Castro Alves, do meu culto, e àquele norteante "a arte pura, inimiga do artifício, é a força e a graça na simplicidade!", de Bilac, da minha admiração.

Na verdade, sob o mínimo possível da Forma, esplenderá, e empolgará, mais talvez que se nua inteira estivesse, essa divina Poesia, aos seus amantes.

Delicioso valor da brevidade.

É o prestígio da Arte, e a Arte verdadeira sendo a do preceito bilaqueano, estará servindo-A com suas máximas virtudes e magias.

"A força e a graça na simplicidade"...

A força de expressão do haikai deflui, antes de mais nada, da elasticidade imensa do caráter de subjetivismo de que se impregna. Multiangular, sempre e todos lhe descobrirão fartos sentidos, a par de sonoridades, coloridos, sabores e sensações várias.

Graça: -- Nem por ser forte, deixa de ser grácil esta forma de poesia originária do País do Sol Nascente. Até nem saberemos o que é mais, pujante como expressão, ou expressivo como graça.

Sua força não lhe abafa a leveza; esta realça aquela, com ela se irmana, e casa, e une, de tal maneira, que uma não se antepõe à outra, nem à outra se sobrepõe. Daí um harmonioso equilíbrio de resultante eminentemente artística: a elegância.

Encantadora é a graça reassumante do haikai, e tão sutil, que todos os requintes temperamentais do poeta, e toda fina ironia e toda leve malícia, e todo delicado, incorpóreo sorriso, e toda tênue, sentida, cristalina cintilação de lágrima, ela pode traduzir.

Tudo se traduz com o haikai, em conseqüência, aí está, de sua força e graça, e também, na verdade, tanto ou mais, por causa da sua simplicidade.

Simplicidade! Não a simplicidade chata, rasteira, rançosa e incolor, -- mas aquela que se ajusta à inspiração, gêmea dela, que vê, que discerne, e grande e profunda, como simples é, em essência, tudo quanto é grande e profundo.

Porque, infelizmente, esteve grassando aí fora um "simplismo" simplesmente pavoroso, que praticava e reclamava, para a Poesia, essa chateza e rasteirismo. Felizmente, porém, se ainda agora tal conceito vigora, é somente em meio dos saudosistas, os remanescentes dessa "simplicidade", isto é, os que, por defesa da própria mediocridade, a erigiram e erigem em paradigma.

Mais ainda, visto o haikai como legítma, real expressão poética, não se coaduna essa simplicidade postiça, chochinha e barata com a sua índole. Nunca lhe irá bem. Não há rebuscados e extravagâncias de forma, mas não se chafurda aquém do vestíbulo sagrado da iniciação poética e artística: penetra-se o templo, onde a Simplicidade, a verdadeira e eterna simplicidade tem lugar entre as Musas e recebe culto, que é, como o das outras suas companheiras, "sine qua non" para as obras perenes do espírito humano.

Do haikai e em seu louvor, 1940


Se -- à maneira do que ocorre no Japão -- já possuíssemos uma classificação de "kigo", lá se acharia incluído o termo balão, característico (e saborosamente brasileiro) das festas católicas, popularíssimas, de junho, designativo, também, portanto, no haikai, de que nos entramos no findar do outono, na entrada do inverno.

Diário Nippak, 26/06/1949


Assim (de "haiku", e este, de "hokku") quanto ao haikai -- termo que, no ocidente, se estereotipou para, de maneira exclusiva, denominar o terceto de, classicamente, 5-7-5 sílabas ou sons métricos e que, ortodoxamente, deve indicar ou refletir a estação do ano (ao menos indiretamente) em que é elaborado; e caracterizado, portanto, por sua extrema concisão, devendo, ao mesmo tempo, através desta, fluir-lhe, com naturalidade, o conteúdo poético. Tal evidente extrema concisão, resultante de sua singular brevidade, torna-o suscetível de profundos e refinados simbolismos, sugestões e associações múltiplas, como do mais denso teor impressionista ou expressionista, o que lhe comprovam, com maestria magnífica, os geniais Bashô e Buson, Issa e Shiki, e inúmeros outros haikaístas, dos mais antigos aos mais modernos e contemporâneos, que, ontem, como hoje, têm brilhado, tantas vezes, com máxima intensidade, na literatura nipônica; Moritake, Kikaku, Bonchô, Teitoku, Meisetsu, Soseki, Kyorai, Sazanami, Chiyo-ni, Kubutsu, Murakami, Seiho, Hasegawa, Getto, Sekitei, Kasa, Reiyoshi, Kyoshi Takahama, e Bokusui Wakayama, Hekigodo Kawahigashi, Aro Usuda, Choi Takada, Seisensui Ogiwara (tipicamente emancipados da forma silábica tradicional), etc.

Wenceslau de Moraes e
outras evocações, 1980


Aqui, uma pequenina e apagada homenagem ao vulto eminente [Kyoshi Takahama], que, tão cordial e fina e generosamente, nos acolheu -- com espontânea, amável apresentação do igualmente saudoso sr. Yôsui Nakano, presidente da "Sansui-Kwai", destacado haikaísta da colônia japonesa de São Paulo -- visitamo-lo, em Tóquio, em 1940, destinando, como veio, logo em seguida, a destinar, uma página da, mundialmente prestigiosa revista especializada Haikai, para honrosa e imerecida notícia (lisonjeiramente ilustrada) a respeito, e retribuindo a modesta oferta que lhe fazíamos dos exemplares de dois opúsculos de nossa autoría, com a dádiva dos exemplares de valiosas obras de sua lavra, com preciosas dedicatórias, tocando-nos, ainda, a nobreza e carinho de seu gesto, ao fazê-lo, ademais, acompanhado pelos delicadíssimos mimos dos exemplares de duas plaquetas de trabalhos poéticos da lavra, respectivamente, de filha e nora do grande escritor, mundialmente consagrado, às quais nos apresentava na ocasião de nossa visita, e que, por sua vez, nô-las ofereciam, com gentis dedicatórias, acrescentando, assim, razões imperecíveis de profundo e respeitoso recohecimento de nossa parte para com sua acolhida.

Wenceslau de Moraes e
outras evocações, 1980


HAICAI -- gênero poético, originário do Japão, aparecido muito depois da tanca, ou seja, há cerca de quatrocentos anos. Consiste numa estrofe de três versos de, respectivamente, 5 - 7 - 5 sons métricos. sem rima (inexistente na poesia nipônica) e, geralmente, sem título. Também, por tradição, seu tema apresenta alguma relação direta ou indireta, ou apenas insinuada, com a natureza circunstante e, em particular, com a estação ou época do ano, em que é composto.

Mas, esses cânones são, por vezes, ou mais, ou menos, inobservados.

Brasa dormida, inédito

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1 de maio de 2000
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