A Contemplação da Lua 2019 dos Grêmios Águas de Março e Sabiá

Haicais compostos durante a Contemplação da Lua realizada entre os dias 18 e 22 de abril de 2019 pelos membros dos grêmios virtuais de haicai Sabiá e Águas de Março.

Relato de Emi (恵美) Benedita Azevedo

O deslumbramento desde a primeira Contemplação de que participei no Templo Busshinji, em São Paulo, continua. Aquela magia da primeira vez, que surpreendeu os haicaístas presentes em 2007, continua na lembrança e mesmo estando sozinha como foi neste ano, aquele mágico momento permanece na memória e no relato de Guin Ga:

O céu estava claro, mas alguns farrapos de nuvens que passavam rapidamente por trás dos escuros edifícios impediam-nos a visão da lua. Era ainda muito cedo para pessimismo. Pouco durou essa ausência. Passados alguns minutos, a voz da Profa. Benedita Azevedo fez-se ouvir, forte e clara:

— É ela. Entre os dois edifícios, a nuvem vai descobri-la outra vez!

E o vozeio inicial se dissolveu, dando lugar a um silêncio rompido por alguma tosse ou um latir de um cão.

Álvaro Posselt

Por onde caminho
sigo e também sou seguido —
Lua-desta-noite

Apitos na noite —
Será que o guarda também
vigia a lua?

Desperto do sono —
Ainda pelo quarto
o clarão da lua

Benedita Azevedo

Lua desta noite.
Com minha Canon portátil
fiz muitas fotos.

O brilho da lua
sobre as árvores do quintal —
sombras alongadas.

Silêncio da noite —
O brilho intenso da lua
Ilumina a encosta.

Carlos Bueno

Sob a luz da lua
procuro para celebrar
o saquê dourado.

Lua de outono
A mestra em silêncio
motiva os haijins.

Penumbra no templo
Paira sobre os haijins
a luz da lua.

Carlos Martins

O perfume doce
de uma árvore de cheiro —
Lua-desta-noite.

Celulares retratam
na passarela do Metrô —
A lua cheia.

Detrás desses prédios
brilha no céu sem nuvens —
A lua cheia.

Carlos Viegas

O luar invade
Pátios e jardins do templo
Silêncio profundo

De uma vez o vento
Abre a janela do quarto
Luar espalhado

O luar avança
Pelos confins do cerrado
O vazio dos céus

Clarinha Sznifer

Refletida no mar
Ela se mostra em dobro
Festa da Lua.

Na praça de Lindoia
Procuro e não acho
A lua-desta-noite.

As nuvens em concha
Exibem toda majestade
Do Clarão da Lua.

Guilherme Fischer

vizinhos conversam
encostados na janela —
luar entre as casas

homem na canoa
acena para família —
criança aponta a lua

pede aos netinhos
virem enxergar São Jorge —
lua sobre a casa

Madô Martins

Fecho a janela —
Sei que estará em meus sonhos
a Lua-desta-noite

Meus olhos contemplam
do outro lado do mundo
a Lua de Bashô

Crianças na rua —
Ilumina as brincadeiras
lua cheia de outono

Maria Lima

Um facho de luz
ilumina todo o campo —
Bela lua cheia!

Passam nuvens lentas,
pela lua-desta-noite —
Cenário outonal

De volta pra casa,
acompanha- me um clarão —
Resplendor da Lua

Marco Aurélio Goulart

O clarão da lua
aparece de repente —
Nuvens e mais nuvens.

Céu de muitas nuvens —
A lua cheia de outono
surge com seu lume.

Lua-desta-noite —
Bem discreta, atrás das nuvens,
sobe noite adentro.

Matusalém Dias de Moura

Num piscar de olhos,
sobre a montanha distante
surge a lua cheia.

Menino-haijin
em companhia do pai
contempla a lua.

Rompe grossas nuvens
e mostra-se toda nua,
a lua de outono.

Moduan Matus

mar, céu e lua
aparecem na paisagem
da vida agora!

Entre os galhos
a lua iluminando
silhueta de ave.

Natália Yamane

no retorno ao carro —
detrás da goiabeira
o clarão da lua

saída do serão —
o porteiro contempla
a lua de outono

sem a novela —
um vulto a espera da lua
no banco do jardim

Pedro Galuchi

Brilhante sem par
Vossa Majestade a Lua
Reina no céu

Raymundo Luís Lopes

As nuvens clareadas —
no caminho do cerrado
a lua outonal reina

Com medo do escuro
o menino chama a mãe —
a lua cheia surgindo

Clarão da lua cheia
alumiando as margaridas
festa no jardim

Regina Alonso

Lua de Bashô —
na brancura da areia
o rastro do brilho

de olhos na Lua —
na mureta à beira mar
nenhuma conversa

Brilham escamas
na rede do arrastão —
Lua de Bashô

Regina Coeli Nunes

Sob a lua cheia
meus olhos grudam fixos
na lírica lua.

Lua cheia desponta
e incrustada de luz,
encanta meu olhar.

Rose Mendes

lua-desta-noite —
estão os sapos coaxando
feito uma orquestra

lua-desta-noite —
no pátio da Santa Casa
a fé renovada

o clarão da lua
passeia pela varanda
quase entra na casa

Ruth dos Santos

Clarão da lua
Cobre de prateado
O telhado do vizinho

Sandra Hiraga

Passeio de carro —
Acompanha no trajeto
a luz do luar.

Fria madrugada —
Por trás dos arranha-céus
lua desta noite.

De um lado ao outro
rolo e enrolo na cama —
Clarão da lua.

Sérgio Bernardo

Despedem-se amigos —
Oculta atrás da palmeira
eis a Lua Cheia

Gata chorando
diante da casa às escuras —
Lua cheia de outono

A cada mirada
nunca é igual contemplá-la
Lua-desta-noite

Severino José

começo de noite
a luz da lua de abril
vaza a galharia

lua desta noite
a casinha da chácara
mais iluminada

frescor noturno
a luz da lua outonal
contemplo sozinho

Sil

A esquecer tudo
Aqui ao contemplar a Lua —
Serenidade.

Essa lua que cheia
Ilumina caminhos
Por todo sempre.

Stela Siebeneichler

Farrapos de nuvens
são pouco para cobrir
a lua esplendorosa

Poucas estrelas
acompanham a lua cheia
sobre a poça d’água

Sylvia Mercadante

Nesta noite fresca
luzeiro campeia nos céus —
lua cheia de outono

Valdir Peyceré

Final de tarde:
esperando pela lua
em crescente