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Apresentação Antologia de Haicais Cronologia

Haicais

O critério básico de minha seleção é o alto teor de balacobaco. Ou seja, os poemas que, sob uma ótica própria que Paulo Leminski teve do haicai, têm uma força criativa tão grande que deixam todas as discussões menores. O mesmo critério vale para haicais de outras vertentes e princípios. Não me basta que estejam corretos. Têm que dar barato. Um abraço e boa leitura.

Ricardo Silvestrin



soprando esse bambu
só tiro
o que lhe deu o vento


confira
tudo que respira
conspira

duas folhas na sandália
o outono
também quer andar

a palmeira estremece
palmas pra ela
que ela merece

passa e volta
a cada gole
uma revolta

bateu na patente
batata
tem gente

verde a árvore caída
vira amarelo
a última vez na vida

nada me demove
ainda vou ser o pai
dos irmãos karamazov

na rua
      sem resistir
me chamam
torno a existir

debruçado num buraco
vendo o vazio
ir e vir

casa com cachorro brabo
meu anjo da guarda
abana o rabo

cabelos que me caem
em cada um
mil anos de haikai

as folhas tantas
o outono
nem sabe a quantas

a chuva vem de cima
correm
como se viesse atrás

amei em cheio
meio amei-o
meio não amei-o

pelos caminhos que ando
um dia vai ser
só não sei quando

meiodia      três cores
eu disse vento
e caíram todas as flores

abrindo um antigo caderno
foi que eu descobri
antigamente eu era eterno

o mar o azul o sábado
liguei pro céu
mas dava sempre ocupado

primeiro frio do ano
fui feliz
se não me engano

ano novo
anos buscando
um ânimo novo

cortinas de seda
o vento entra
sem pedir licença

lua à vista
brilhavas assim
sobre auschwitz?

tudo dito,
nada feito,
fito e deito

tarde de vento
até as árvores
querem vir pra dentro

tudo claro
ainda não era o dia
era apenas o raio

essa vida é uma viagem
pena eu estar
só de passagem

longo o caminho
até uma flor
só de espinho

nadando num mar de gente
deixei lá atrás
meu passo à frente

noite alta   lua baixa
pergunte ao sapo
o que ele coaxa

nu como um grego
ouço um músico negro
e me desagrego

a noite - enorme
tudo dorme
menos teu nome

tatami-o ou deite-o

de colchão em colchão
chego à conclusão
meu lar é no chão

madrugada     bar aberto
deve haver algum engano
por perto

acabou a farra
formigas mascam
restos da cigarra

minha alma breve breve
o elemento mais leve
da tabela de mendeleiev

essa idéia
ninguém me tira
matéria é mentira

jardim da minha amiga
todo mundo feliz
até a formiga




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15 de julho de 1999
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