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Apresentação Antologia de Haicais Cronologia

Paulo Leminski

Precisamos situar e entender a importância da obra de Paulo Leminski a partir de dois eixos fundamentais, que marcam a sua formação literária: o concretismo e a contracultura dos anos 60/70. Na obra de Leminski estas duas informações estéticas se fundem e adquirem uma nova dimensão, que fazem com que ele seja fundador de um novo e único momento na poesia brasileira da segunda metade do século.

Do concretismo veio, entre outras coisas, a informação de origem acadêmica, a visão em perspectiva da história da literatura universal, o radicalismo na valorização da palavra enquanto signo e matéria-prima básica do poema (a informação concretista talvez valha mais pelo seu conteúdo teórico/ crítico do que por sua produção literária propriamente dita, penso eu). Da contracultura veio o resgate da comunicabilidade (que fez tanta falta -- e até hoje faz -- a uma legião de poetas posteriores à primeira geração modernista), o humor, a desmistificação da "estética do profundo", o espírito meio anarquista e a veia transgressora. Dos dois, a valorização da concisão e o combate ao derramamento. Por esses dois caminhos Paulo chega ao haicai. A visada, no entanto, será sempre a do criador. O haicai é matéria para criação, e Leminski realmente alarga as possibilidades do gênero, sem o menor compromisso em manter-se dentro dos limites estritos da estética clássica japonesa, apesar de reverenciá-la e a ela reportar-se.

A legião de seguidores não é culpa sua, e enquadra-se perfeitamente no esquema de Inventores/ Mestres/ Diluidores proposta por Pound. Não é fácil ser genial, apesar da genialidade freqüentemente vir em embalagem muito simples.

Assim, o haicai para Leminski é informação, ponto de partida e muitas vezes de chegada (roupas no varal/ deus seja louvado/ entre as roupas lavadas), tudo a serviço do impulso criativo do poeta. A transgressão que ele pratica não é nenhuma heresia, é alargamento das possibilidades estéticas. Um sólido punhado de regras não vale uma só iluminação que um leitor de Leminski teve com um dos seus haicais ou trans-haicais. Parece-me justo criar obedecendo regras, mas não muito justo opor regras à criação.

Paulo Leminski, penso eu, foi um dos maiores criadores e divulgadores do haicai em língua portuguesa, e não um desviador de rota do gênero.

João Angelo Salvadori



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15 de julho de 1999
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