Novos haicais de Seishin

O Som da Cascata
Seishin (Antonio Fabiano)

Coletânea de Haicais (108 haicais). Apresentação e prefácio do autor. Posfácio do autor. Inclui nota bio-bibliográfica. Jundiaí, Telucazu, 2023, 80 páginas, 12cm x 18cm. ISBN 978-65-86928-71-6. Contato: seridoano@gmail.com.

Do prefácio: “O que faz um haicai ser haicai e não outra coisa? Resposta possível, mas que apenas tangencia a questão: o sabor. Há muita teoria sobre isso. Você mesmo escreveu linhas que não servem para nada. É como tentar exprimir os gostos de banana, manga, café, brócolis, uva, cachaça, água. Quem provou, sabe. Embora nem todos gostem de tudo ou precisem experimentar todas as coisas. As coisas, porém, são o que são. Se a sua mente estiver vazia, talvez você encontre o haicai. Talvez nunca escreva um, mas saberá seu sabor quando o encontrar. Algo vai tocar seu coração. Para quem faz disso um caminho de vida, o melhor se dá quando já não é importante escrever um bom haicai. Não queira escrever um bom haicai. Apenas escreva. E não tema o julgamento de ninguém. Faça tudo com humildade, sem pretensão. Um haijin não pode ser orgulhoso. Se houver um fio de orgulho em seu coração, não conseguirá compor um haicai digno de consideração. Há aquela sentença do velho poeta do haiku da rã… ‘As obras do espírito são boas, mas, quando feitas apenas com artifício de palavras, não merecem respeito’ (Bashô). A letra em si mesma é inútil. Tornar-se escravo da letra é ruim, porque o espírito é vida e a vida não se deixa aprisionar. É como o vento… Se alguém prendesse o vento, ele deixaria de ser o que é. ‘O vento sopra onde quer e ouves o seu ruído, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito’ (Jo 3,8). Muitos não avançam no caminho porque se perdem em disputas, vaidades. É o que se pode chamar de cegueira mental. Um homem vaidoso é apenas alguém iludido em seus próprios devaneios, um carro atolado, um bêbado que crê na elevada ideia que faz de si mesmo, a causar vergonha nos que de fora o observam sobriamente. Seja humilde. Jamais pense que sabe alguma coisa. Aquele que tem a sorte de encontrar um mestre de quem queira aprender e que aceite lhe ensinar, é só a ele que deverá dar satisfação, pelo enorme respeito que devemos aos mestres. No caminho do haiku, você encontrou um mestre. ‘Porque o discípulo estava pronto, o mestre apareceu’. Mas é preciso lembrar que você não aprendeu nada, até agora.”

Amostras:

monges na estrada —
florzinhas de primavera
sob suas sandálias

vento de verão —
nas folhas da bananeira
o som da cascata

saudade do menino
que te queria em gaiola —
canário-do-mato

painas ao vento —
de repente me dou conta
dos cabelos brancos

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